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terça-feira, 10 de julho de 2018

Relato de uma experiência etnográfica: Música com Taekwondo no Savério

O projeto é fruto de uma imersão na realidade do bairro Jardim São Savério/São Paulo, a partir das atividades de fim de semana na Escola Estadual Dr. Álvaro de Souza Lima, o Álvaro, onde se reúnem, entre outros, os participantes do Projeto Taekwondo e Cidadania, foco de nossa pesquisa.


Como já dissemos, a pesquisa-ação no Jardim São Savério iniciou-se em 2013, com visitas semanais aos domingos junto ao Projeto Taekwondo e Cidadania, que acontece desde  2001 e, a partir de 2007 na E.E. Dr. Álvaro de Souza Lima, o Álvaro. A coordenadora do projeto, Maria Zetildes Lima, e o então vice-diretor, Arnaldo Batista Oliveira, acolheram a pesquisa. Os participantes do projeto estranharam a introdução do assunto música misturada com a modalidade mas foram sempre muito receptivos e afetuosos. No início não havia a menor clareza sobre para onde uma coleta de dados feita durante os treinos do grupo para fins universitários, a partir de observação distante ao fundo da sala por curto período de tempo, o tempo suficiente para concluir um trabalho acadêmico, poderia evoluir. Os participantes sabiam apenas que estavam colaborando para ajudar uma aluna a se formar em Música.
A pesquisa objetiva, distante e fria, ia perdendo o sentido a cada visita pois as pessoas já criariam expectativas sobre como integrar Taekwondo e Música, que aspectos uniriam as duas atividades e manifestaram suas percepções artísticas, algumas informando com quais instrumentos haviam tido contato ou dizendo sobre suas preferências musicais ou mostrando outras habilidades. Nas primeiras visitas ao projeto, observamos o desenho de um participante de 8 anos.
 
Fotos: Marinês Mendes


Da mesma forma, nós também não conhecíamos o Taekwondo, o que nos levou a fazer uma pesquisa sobre suas origens. É uma arte marcial mas as federações preferem, para fins de popularização dessa prática, inscrevê-la nas competições desportivas. Por essa razão e porque os participantes do Projeto também a consideram assim, optamos por compreender esta modalidade, neste capítulo, como esporte mas sem perder de vista sua condição de arte, brevemente abordada na primeira parte a respeito da história do Taekwondo.
Nota-se que os participantes são incentivados a ter apreço pela beleza dos movimentos, pois é um esporte olímpico, o que os leva a conferirem sentido heroico ao praticá-lo e está implícito no juramento do Taekwondo (nunca fazer mal uso do Taekwondo; construir um mundo mais feliz e pacífico; ser campeão da liberdade e  da justiça). No site da academia que apoia o Projeto há duas afirmações que demonstram essa disposição:  “...as lutas olímpicas de taekwondo são extremamente emocionantes e dão gosto de assistir: o TAEKWONDO é somente utilizado como defesa e jamais como ataque, sendo no entanto também empregado para protegermos os mais fracos das prepotências dos mais fortes. Esta é a definição real de defesa pessoal nas artes marciais.”
É importante frisar que o Projeto surgiu por iniciativa de Maria Zetildes (militante dos movimentos sociais de moradia e saúde), que propôs uma parceria da creche Tapuias com a Academia Ipiranga de Taekwondo, na década de 1990. A creche, em que trabalhava como auxiliar de enfermagem, era mantida pela Paróquia Santa Cristina e conveniada com a Prefeitura Municipal de São Paulo. Zetildes era praticante da modalidade desde 1982 mas, com as dificuldades financeiras enfrentadas, deixou de praticar o Taekwondo porque implicava em gastos com transporte e mensalidade, passando a treinar Capoeira com o mestre Borracha em um projeto social no Mutirão Jardim Celeste, mais próximo de sua residência.
Por sugestão da diretora da creche, Luiza Lima, Zetildes consultou o mestre Ricardo Andrade, seu orientador no Taekwondo, a respeito da possibilidade de dar aula dessa arte marcial para as crianças da creche. O mestre prontamente aceitou a proposta, formalizando a parceria com a creche e, dessa forma, Zetildes pode voltar à modalidade de sua predileção, agora também nas condições de professora e de praticante. Em 2000, foi realizada uma pesquisa com aproximadamente cem pessoas no Jardim São Savério e no Parque Bristol sobre a implantação de um projeto social que atendesse a esses bairros. A ideia foi bem recebida pelos moradores e, no dia 05 de fevereiro de 2001, teve início o projeto social de Taekwondo no Mutirão Jardim Celeste, tendo tido uma frequência aproximada 40 alunos, crianças, jovens e adultos, mulheres e homens. Alguns anos depois, o projeto transferiu-se para a UMBS - União de Moradores do Pq. Bristol e Jardim São Savério e se consolidou como Projeto Social Taekwondo e Cidadania. Em 2007, o Projeto passou a ter lugar na escola do bairro, o dr. Álvaro, escola que integra o Programa Escola da Família. Quando iniciamos a pesquisa, o Projeto Taekwondo e Cidadania já tinha um trabalho consistente de 10 anos em parceria com a equipe do projeto de extensão Saber Cuidar, da UNIFESP e apoio da Academia Ipiranga de Taekwondo.
Nas seções de treino que aconteceram semanalmente aos domingos até o primeiro trimestre de 2016, vivenciamos alguns movimentos:  tchariot (posição de sentido ou posição inicial), jumbi (preparar), kiunê (saudação), ap chagui (chute frontal com o artelho do pé ), ap podô tchagui (chute frontal com o calcanhar), tit tchagui (chute para trás), pakat tchagui (chute circular para fora),  an tchagui (chute circular para dentro). Notamos o cuidado com o material, os doboks (espécie de kimono), as faixas, os capacetes, os coletes, os aparadores de chutes e as raquetes eram, e são, compartilhados e ficam guardados com Zetildes por conta de que, sendo um projeto social, em caso de desistência, esse material é entregue a outra pessoa interessada.  
Nossas visitas ao Jardim São Savério intensificaram-se e tornaram-se uma exigência sensível, mandatória e prazerosa. Esse périplo incluiu lidar com as mudanças de rota dos ônibus que servem ao bairro, conversar com os transeuntes, pequenos comerciantes locais, acompanhar silenciosamente algumas reuniões comunitárias, tomar conhecimento de fatos trágicos recentes e extraídos da memórias de moradores até as celebrações seja nas igrejas, nos movimentos sociais, no Álvaro, nas diversas formas de cultura que circulam pelo bairro e arredores onde os taekwondistas moram.
Os indivíduos em situação de vulnerabilidade social não dispõem do ócio necessário para usufruir da experiência musical, aprender a tocar um instrumento musical. O que indica que as pessoas querem compreender a música fazendo música e é desejável que isso aconteça.
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Fotos: Acervo Zetildes Lima

De 2013 até o momento presente, nós e os participantes fomos descobrindo que há muitas aproximações entre o Esporte e a Música: o ritmo, o gesto, o movimento corporal, a prática de grupo, a observância a princípios fundamentais, a percepção de tempo e espaço, a aquisição de técnicas, a coordenação motora, a performance.
Esse aparente acaso na associação entre as duas atividades através da experiência de descrição etnográfica, portanto sistemática, junto ao Projeto Taekwondo e Cidadania nos levou a buscar mais subsídios que iluminassem nosso itinerário e encontramos uma experiência já consolidada do arte-educador Josep Maria Aragay Borràs com quem concordamos sobre o pensamento de que Esporte e Música são duas manifestações culturais muito populares em todos os lugares e contextos sociais e que, combinadas, podem contribuir para as pessoas alcançarem autonomia, sentido de participação nas atividades coletivas, fortalecimento do afeto entre os membros do grupo (ver em http://bit.ly/2lqsJOO).
Em nossa pesquisa, buscamos uma aproximação entre as ideias sobre música, movimento, educação musical, cidadania e o Projeto Taekwondo e Cidadania, idealizado por Zetildes, tal como descreveremos em seguida.
No primeiro semestre de 2016, houve duas oficinas de pintura, por iniciativa de Zetildes, em sua casa. Reuniram-se as crianças vizinhas, alguns participantes do Projeto e adultos. Zetildes, com apoio de padrinhos dos taekwondistas, ofereceu tela e tinta. Cada qual fez sua arte, como mostram as fotos abaixo:
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Fotos: acervo Zetildes Lima

Zetildes solicitou que fizessem uma pesquisa sobre a história do Taekwondo.  Os participantes apresentaram o resultado, que foi postado no facebook:
Pesquisa 1 - “...até eles inventarem uma arte de defesa chamada soho maki e dessas artes marciais, surgiu o Taekwondo. O Taekwondo é muita coisa pra muita gente. Para o povo de Silla, era sua única defesa, para outros, um tipo de ginástica e esporte mas para muitos era e ainda é uma arte marcial de alto valor”. Ver em http://bit.ly/2kz9rFC.

Pesquisa 2 - “as palavras que devem ser colocadas no juramento: cortesia, integridade, perseverança, autocontrole e espírito indomável. O juramento do Taekwondo: 1. Eu prometo observar as regras do Taekwondo; 2. Respeitar o instrutor e meus superiores; 3. Nunca fazer mal uso do Taekwondo; 4. Construir um mundo mais pacífico; 5. Ser campeão da liberdade e da justiça. O juramento da competição: eu juro competir com lealdade, respeitar meus adversários, respeitar os regulamentos da competição, respeitar os juízes e meus superiores.  Juramento da faixa preta: 1. juro manter sempre o espírito do Taekwondo, não parando de treinar até o fim da minha existência; 2. cumprir os regulamentos do Taekwondo procurando jamais errar porque sou faixa preta no Taekwondo; 3. respeitar e obedecer por toda a minha existência pessoas e os ensinamentos do meu mestre; 4. respeitar e obedecer sempre os mais graduados que eu e tratar com carinho os menos graduados; 5. e compreender que se não cumprir, pronto a receber as penalidades existentes”. Ver em: http://bit.ly/2lxJwSQ.
No dia 5 de março de 2016, os participantes do Projeto Taekwondo e Cidadania participaram do sarau temático do 3.º Encontro Educação em Direitos Humanos UFABC – EDH, do curso de mesmo nome, ministrado aos professores do ensino formal. O sarau visou apresentar iniciativas culturais que tivessem como linha central o desenvolvimento da cidadania. Nossa apresentação, que aconteceu no CEU Butantã,  constituiu-se de uma aula aberta demonstrando a percepção da música associada aos movimentos do Taekwondo, contando também com uma demonstração de luta pelos taekwondistas apoiadores do projeto.
foto: UFABC
Cumprimos o seguinte roteiro: 1.  apresentação da pesquisa; 2. apresentação do Projeto pela Zetildes; 3. uma participante foi chamada a orientar o aquecimento e alongamento  do grupo, iniciou com a sequência de comandos tchariot, jumbi, kiunê, parô, kiuné; 4. sequências de chutes; 5. passamos à atividade musical com pequena improvisação, realizando exercícios com altura não definida utilizando  movimentos do Taekwondo; 6. improvisação rítmica utilizando movimentos do Taekwondo com instrumento de percussão (tamborim); 7. exercícios combinando os movimentos do Taekwondo com a peças “Retirada Noturna de Madrid”, arranjo de Luciano Berio para obra de Luigi Boccherini,  Libertango, de Astor Piazzolla. 8. uma participante leu alguns poemas clássicos coreanos; 9. por fim, os taekwondistas apoiadores do Projeto finalizaram nossa participação no 3º Encontro com uma demonstração de luta, defesa feminina e quebramento.
 
fotos: 8. Zetildes Lima; 9, 10 e 11 . UFABC

Após a apresentação no CEU Butantã, experiência que também está descrita nos Anais 2016 VI Jornada de Estudos em Educação Musical/UFSCar, nos reunimos para reavaliação dos rumos do Projeto e comentarmos sobre nossa participação no encontro. O fato para eles foi uma vitória pois sentiam-se protagonistas e também espectadores de seus taekwondistas. No início ficaram nervosos com o que poderia acontecer, pois fizemos poucos ensaios presenciais, não tinham familiaridade com o repertório musical proposto e para eles não havia ficado muito clara a ideia de aula aberta como performance e, principalmente, receosos em serem mal interpretados junto aos mestres taekwondistas pela junção com a Música. Embora tivéssemos trabalhado “Libertango” nas oficinas, os participantes se sentiram mais à vontade com o arranjo de Berio que não estava propositalmente ensaiada para a performance; a aula aberta foi bem recebida pelo público presente, os taekwondistas estavam alegres com o feito. Aquela havia sido a primeira vez que se apresentavam com uma proposta diferente e em espaço diferente do bairro.
Houve uma mudança fundamental na condução do Projeto. Zetildes avaliou que, após 10 anos de existência, os encontros semanais estavam ficando desgastantes pela falta de assiduidade, a frequência de alguns participantes vinha sendo muito irregular, causando uma queda na qualidade do aprendizado para o Taekwondo e desistências dos mais assíduos. Zetildes compartilhou sua necessidade de treinar mais, de voltar a estudar e, tendo mudado de turno no hospital em que trabalha, ficaria mais difícil estar presente todos os domingos. Propôs então que os taekwondistas do Projeto passassem a treinar durante a semana e a realizar encontros mensais no Álvaro para atividades de várias naturezas, incluindo a integração com a música. Essa mudança não dissolveu o grupo, ao contrário: fortaleceu os laços, os participantes se organizam conforme suas possibilidades de horário, vão regularmente para a academia ou para o CEU mais próximo, onde taekwondistas graduados da academia parceira do Projeto dão aula e orientam os treinos.
Em geral, o grupo se comunica bem pelo whatsApp e essa é uma ferramenta de comunicação que agrega os taekwondistas que, por compromissos com o trabalho, família, se distanciaram do Projeto.  Poucos demonstram interesse em assuntos que se pretendam mais “conceituais” por esse meio; as pessoas raramente expressam opinião quando memes políticos ou de temas polêmicos são postados. Não significam que não tenham opinião a respeito da vida política do país, apenas conversam pouco sobre esse tema por meio do whatsApp. O que mobiliza o grupo é o gosto pelo Taekwondo, a flexibilidade, a resistência, a coordenação motora, o estilo de vida que a prática propicia.  
Notável o fato de uma participante ter postado no grupo um trabalho em vídeo e que chamou a atenção. O vídeo, por ela realizado, tem duração de 57 segundos; nesse tempo são exibidas 28 fotos, em plano geral, de conjunto e em plano americano, dos participantes em duas instituições, o Álvaro e a Academia,  e em espaços diferentes desses dois, fotos de momentos diversos dos treinos na escola, em interação com outros taekwondistas na academia, sendo o conteúdo da última imagem composto por um desenho de um barco no ponto alto de uma onda à esquerda e a mão estendida à direita em direção ao barco, sugerindo que a mão resgatará o barco do perigo; o texto da imagem diz no alto à esquerda do layout: “em meio à tempestade” e o texto expandido na base da onda: “confie em Deus”. A canção Shake Ya Tailfeather, gravada pelos rappers norte-americanos Nelly, Puff Daddy e Murphy Lee, em 2003, foi acrescentada como base musical (Esses elementos contidos no vídeo, a prática da arte marcial, os espaços de referência, a dimensão religiosa e o gosto estético, valem uma boa análise mas não cabe aqui). Propus no whatsApp utilizarmos a base rítmica do rap como parte integrante da canção “De magia, de dança e pés”, de Milton Nascimento para a performance de fim de ano. Houve uma tímida acolhida por parte da criadora do vídeo, de ninguém mais.
Postei, no grupo de whatsApp, vários vídeos de duas canções para nosso ensaio: “De magia, de dança e pés”, do Milton Nascimento, a gravação original e algumas formações corais e “Olha o menino (Frases)”, de Jorge Ben Jor e Yara Rossi, a gravação original e o clip de Caetano Veloso para o programa “Fantástico”, da Rede Globo de Televisão, já antecipando que pretendia ensaiar com eles essas duas canções. Postagens foram feitas também no grupo do facebook. Outro participante lembrou-se de que já havíamos trabalhado a música de Milton na oficina anterior e teceu suas considerações sobre os dois vídeos: “O segundo vixi eu vi muito na infância” e “O terceiro ehhh as 3 e a mesma mas época diferentes e maneira de tocar diferentes”. Elogiei a resposta inesperada e solicitei pelo whatsApp para que pensassem, sem precisar escrever a resposta,  nas palavras que o artista escreveu, qual o sentido dessas palavras na vida de cada um de vocês como pessoas no dia a dia e como taekwondistas.
Retomamos os encontros em 22 de outubro de 2016. Os trabalhos começaram às 9h da manhã, em frente à casa da Zetildes, com quatro profissionais da equipe do projeto de extensão da UNIFESP “Saber Cuidar”, com aproximadamente 20 pessoas, entre crianças e adolescentes (meninas e meninos), algumas senhoras adultas e idosas. Foi servido um café comunitário até  às 11 horas da manhã. Nesse dia, tivemos também a oportunidade de conhecer a equipe do “Saber Cuidar”. Trocamos impressões sobre nossos trabalhos e reafirmamos nossa complementaridade.
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Equipe do Saber Cuidar recebendo de presente as pinturas produzidas na oficina de artes plásticas, ministrada por Zetildes em janeiro de 2016. Foto: Acervo Zetildes Lima

Nós nos despedimos da equipe e fomos até o Álvaro para o ensaio. No dia, a escola recebera a campanha de castração de cães e gatos, o que significa que a escola esteve cheia o dia todo. A ideia inicial era ensaiar na biblioteca mas o prof. Arnaldo nos providenciou uma sala que nos permitiu ensaiar sem a interferência dos miados e latidos. Mas era tudo muito vivo, miados, latidos, outros ruídos típicos de pátio escolar, as pessoas com seus cães ou gatos e nós, as pessoas do Projeto. O ensaio foi combinado em função do início dos festejos natalinos e de fim de ano do Projetos “Reflorescer”, “Taekwondo e Cidadania”, “Pânico Brutal/Hip Hop”, “Tocando em Frente”, juntamente com o lançamento do pré-projeto de um livro organizado pela Zetildes e outras pessoas e com as apresentações marcadas para o dia 19 de novembro, na própria escola.
Iniciamos nosso ensaio ao meio-dia.  O roteiro inicial, que eu havia divulgado no grupo de WhatsApp baseava-se no livro “Por Todo o Canto”, de Diana Goulart. A pretensão era trabalhar alguns aspectos da voz junto aos participantes. Mas o roteiro foi alterado em função da grande movimentação na escola. Durante o ensaio, Marinês agradeceu, falou das apresentações acadêmicas que fez e que só as fez porque eles davam cobertura e que é um trabalho que não está fazendo por eles ou para eles e sim com eles. Agradeceu a presença de um taekwondista no 12º Encontro Internacional de Música e Mídia – VIVER SUA MÚSICA, organizado pelo MusiMid - disse que tinha gente do Brasil e de outros lugares do mundo. E que sempre que fosse possível iria convidá-los porque um dia eles irão para a faculdade estudar engenharia, medicina, direito, filosofia, música e que era para eles já terem contato desde já, irem se acostumando porque é assim que se faz na faculdade. Alguns, principalmente as meninas ficaram mais animadas, os meninos ficaram mais em silêncio e um taekwondista fez um discreto sinal de dúvida. Esse taekwondista agora prepara seu passaporte para ir com a Academia Ipiranga para um torneio intercontinental de Taekwondo, que acontecerá no Japão no próximo semestre de 2017.

Foto: Marinês Mendes

Segue o relato de uma das autoras deste capítulo. A proposta agora era que fizéssemos três ensaios seguidos para a apresentação, diferente da aula aberta que havíamos feito no CEU Butantã. Deveríamos ensaiar nem que fosse uma única canção. “De magia, de dança e pés”, que é uma canção simples, com poucas notas e ritmo bem marcado, bem próximo do ritmo do Taekwondo. Dessa forma, embora o grupo tivesse se interessado, desistimos de ensaiar Olha o Menino para a performance do dia 19 de novembro.
Início do ensaio: todos nós sentados, a proposta foi que cada um pensasse num som e o emitisse em voz alta sem se preocupar com afinação. Foi pedido a eles que fizessem simultaneamente e em voz alta. Foi curioso, logo encontraram a mesma frequência sonora, isto é, a mesma nota, todos juntos entoaram o mesmo som. Pedi novamente que fizessem a mesma coisa e buscassem uma mesma frequência sonora. Não conseguiram. Pedi uma pela terceira vez e também não conseguiram. A partir das tentativas, estabelecermos a seguinte conversa sobre o porquê de não conseguirmos o uníssono:
– Desafinação! Respondi que o problema não era desafinação pois não estávamos cantando e eu não tive preocupação com a desafinação.
– Ritmo! Respondi que não era ritmo, também não foi pedido que encontrassem um ritmo. Dois participantes disseram, um em voz baixa e outro em voz alta:
– Descomunicação! (Ora, descomunicação não combina então com a desalegria de que fala Koellreutter, em seu texto educação musical no terceiro mundo?).  Continuei Seguiu-se o diálogo:
– Descomunicação ou a não-comunicação. E por que acontece a descomunicação? Outro participante:
– Não prestar atenção.
Perguntei:
– O que é não prestarmos atenção ali naquele contexto? Como é que a gente presta atenção em um som?
– Pelo ouvido!
– Música é feita de fazer som e ouvir o som, sem ouvir a gente não canta.
Voltamos ao exercício de reunir as vozes mas o som uníssono não aconteceu. Ainda sentados, passamos para o ensaio da canção na seguinte ordem, como já havíamos feito no primeiro semestre:
1. Declamação
2. Cantada a capela (sem acompanhamento de instrumento musical)
3. Prosódia da canção (dizendo a canção no ritmo, sem cantar)
4. Com palmas, reproduzindo o ritmo das sílabas (ostinato)
5. Com palmas, marcando só o tempo da canção (pulso)
6. Cantando a melodia do primeiro verso a verso da primeira estrofe (solo)
Todos repetem o primeiro verso
Solo: de magia, de dança e pés
Todos: de magia, de dança e pés
Solo: de criança, cantor e mãos
Todos: de criança, cantor e mãos
Solo: alameda de gente: vida
Todos: alameda de gente: vida
Solo: fecha e mata qualquer ferida
Todos: fecha e mata qualquer ferida
7. Cantando a primeira estrofe inteira
8. O mesmo procedimento com a segunda e terceira estrofes
Em pé, tentamos dividir as tarefas musicais no grupo, conforme o que demonstram mais facilidade em fazer, para perceberem a variação de timbre, usando a voz, palmas e pés:   dessa forma um grupo bateu palmas, outro bateu pés e outro cantou. Pedimos para lembrarem a canção, cantando o que conseguissem lembrar e fomos corrigindo as palavras imprecisas. Tornamos a cantar agora com acompanhamento de violão em andamento bem lento e repetimos aumentando o andamento (velocidade).
Voltamos a nos sentar e conversar sobre nosso trabalho durante o ensaio. Que faria um arranjo com a divisão de tarefas descrita logo abaixo. Informei que iria convidar um flautista doce para estar conosco, não teria certeza de que poderia. Então um participante se propôs a tocar a flauta mas precisava saber o que tocar, mas ele tinha facilidade de tocar de ouvido. Esse participante sabe tocar bateria. Durante o primeiro ensaio, ele ajudou a orientar os membros do grupo que estavam fazendo o ritmo da música. Eu E foi-lhe dito disse que prepararia haveria um arranjo em que incluiria a flauta para ele. O grupo se animou com a novidade. Preparei Feito o arranjoo e, na semana , enviei enviamos um áudio para ele ouvir.
Encerramos o ensaio e fomos cada um para sua casa. Foi feitoPreparei um arranjo com finalidade didática, que na minha visão estavaparecia muito simples: voz, violão, a base rítmica do rap do Puff Daddy e incluindo uma frase para a flauta. A canção duraria 6 minutos e seguiria  o seguinte esquema:
1.Início – cumprimentos dos participantes do Taekwondo.
2.Ritmo
3.Vozes e violão – primeira estrofe
4.Vozes e violão e ritmo – segunda estrofe
5. Violão e ritmo – repetem o acompanhamento das primeira e segunda estrofes duas vezes, enquanto os taekwondistas fazem a performance com sequências de chutes (tchaguis) e outras formas que a canção suscitasse neles.
6. Ritmo – prepara a volta dos taekwondistas para a posição inicial (tchariot), com a finalidade cantarem a terceira estrofe.
7.Vozes, violão e ritmo  – terceira estrofe
8.Violão, ritmo e flauta – primeira estrofe, variação da melodia com a flauta
9.Violão, ritmo e vozes – canção inteira a uma voz
10. Final - Violão, ritmo e vozes e palmas – encerram com “de magia, de dança e pés” a uma voz.
base rítmica Shake Ya Tailfeather

linha de flauta

No segundo ensaio, houve algumas ausências, incluindo a do flautista e pessoas que não haviam acompanhado o processo desde o primeiro semestre vieram para participar. O arranjo não funcionou. O que parecia simples, soou muito complicado para eles. Levei a partitura do arranjo para me guiar mas eles observaram toda a movimentação: desde a escrita da letra na lousa, a instalação da estante de partitura na sala, organização das folhas na estante, retirar o violão da caixa, reunir o grupo, até a explicação do que já vínhamos combinando. O grupo se mostrou muito refratário. Uma das novas participantes disse “está muito complicado”, “a música não combinava” e a essa fala seguiu-se quase um debate. Então pontuei que seria melhor não fazermos a nossa performance, deixaríamos para um momento em que estivéssemos todos mais preparados e, se eles quisessem poderiam utilizar a música de sua preferência como canção de fundo para a apresentação do Taekwondo.
Foto:  acervo Zetildes Lima
A tentativa foi querer mostrar que a linguagem da canção de Milton poderia dialogar com a base rítmica descolada da linguagem do rap em questão, no afã de evidenciar a virtuosidade da canção brasileira. Avaliando agora, esse é um tipo de mediação arriscada de se fazer, pois há um juízo de valor implícito nesse tipo de ação que não questiona os efeitos da indústria cultural, ao contrário os confirma: misturar duas obras poderia gerar um subproduto, ideia que, felizmente, foi rejeitada, através do silêncio, pelos participantes e seria indesejado como prática educativa, menos pela ideia da fusão mais pela sugestão de preponderância de uma obra em relação à outra.   
Prossegui a argumentação, dizendo que já havíamos combinado, eles já haviam concordado e desde julho vínhamos trabalhando aquela canção específica e estávamos a dois ensaios da apresentação. Eles reviram o processo e afirmaram que queriam cantar com os movimentos do Taekwondo. Até que uma outra participante ponderou que a canção não combinava com o Taekwondo porque que a letra da canção era alegre e o Taekwondo era uma luta. Eu então disse a eles que o Taekwondo era uma luta com movimentos muito elegantes e a proposta era integrar as duas atividades. Uma terceira participante propôs então que simplificássemos o arranjo e incluiriam uma demonstração de quebramento de madeira. E assim passou a ser feito, respeitando a gravação original:
  1. Introdução da canção com o violão
  2. O grupo canta em uníssono a primeira e a segunda estrofes
  3. Solo dos taekwondistas, com demonstração do quebramento de madeira
  4. Após todos os participantes fazerem seu solo, prosseguiríamos cantando a terceira estrofe a uma voz.
O ensaio transcorreu muito bem e o grupo ficou muito contente com a nova solução. Marcamos nosso terceiro e último ensaio. Preocupei-me menos com o desempenho mas mais com a tranquilidade do grupo, que iria propor uma atividade muito diferente da qual estavam acostumados e, embora a apresentação fosse na escola, tinha o peso de uma cerimônia pois saberiam que haveria outras atrações: o Hip Hop, a Capoeira, a Dança do Ventre, o grupo Tocando em Frente, o lançamento do projeto de um livro em homenagem a um dos apoiadores do grupo e um grupo de congada de Diadema. A quadra da escola teria um bom público apreciando as atividades.
O terceiro ensaio aconteceu concomitante ao ensaio do grupo “Reflorescer Para a Vida”, um grupo de senhoras católicas que faz dança do ventre orientado pela professora Célia Araújo, moradora de um bairro vizinho e agente comunitária.
Nós nos reunimos novamente na sala, tivemos uma conversa inicial e uma proposta de relaxamento, que não funcionou, o grupo estava muito agitado. Mas iniciamos relembrando os versos e a melodia. A intenção era que a canção estivesse decorada. Tiramos as dúvidas das palavras verso a verso e cantamos algumas vezes. Para o ensaio, não era possível fazer a demonstração de quebramento, mas organizamos a ordem de cada solo e a disposição do grupo, que deveria ficar em semicírculo para que todos pudessem ser vistos cantando e fazendo o seu solo.
Fiz questão de pontuar que era muito importante que estivéssemos coesos pois o público presente ouviria pela primeira vez a canção, certamente as pessoas não conheciam e que aquele era um momento muito especial. E lembrar que parte do público seria formado por vizinhos, coleguinhas e familiares. Também procurei tranquilizá-los de que pediria à Zetildes ou ao Arnaldo e eu própria reforçaria o pedido para que o público prestasse muita atenção, fizesse silêncio absoluto durante a apresentação do grupo pois era a primeira vez que vocês cantariam em público e que havíamos preparado aquele momento durante seis meses. Uma decisão interessantíssima do grupo: para essa apresentação, iriam participar apenas as pessoas que estiveram presentes nos dois últimos ensaios.
Fizemos um rápido intervalo e fui pedimos às senhoras do Reflorescer que assistissem ao nosso ensaio. Propus que ensaiássemos com a pequena plateia ali presente, um ensaio aberto. E assim foi feito. Escutamos a sugestão de uma apreciadora de que o público poderia ser incluído para cantar também e de que seria fundamental exigir silêncio do público no dia da apresentação. Finalizado o ensaio, voltamos para a  sala em que estávamos e eu disse a eles: essa foi nossa primeira apresentação. Reformulamos a nossa performance de maneira que ficou assim:
  1. Introdução da canção com o violão
  2. O grupo canta em uníssono a primeira e a segunda estrofes
  3. Solo dos taekwondistas, com demonstração do quebramento de madeira
  4. Após todos os participantes fazerem seu solo, prosseguiríamos todos cantando a terceira estrofe a uma voz.
  5. Uma participante distribuiria as folhas com a letra da canção aos taekwondistas-cantores à maneira da entrega de flores e orientaria para qual lugar da plateia cada um deveria ir e distribuir as letras. Para isso, eles teriam que prestar bastante atenção ao seu comando. E toda a plateia, junto com os cantores, cantaria também a canção em uníssono, como um jogral.
  6. O grupo voltaria ao marco inicial, canta a última estrofe e finaliza com “De magia, de dança e pés” (em música, chamamos essa seção final de coda).  
Refizemos o ensaio com esse novo roteiro, ensaiando inclusive uma saudação de agradecimento aos aplausos do público.
No dia 19 de novembro de 2016, chegamos às 11 horas para a performance. Já havia um grupo preparando o almoço, os enfeites, os equipamentos de som, organizando as cadeiras. Fomos para a biblioteca e repassamos o roteiro de nossa apresentação, a canção, almoçamos. Havia alegria e um senso de responsabilidade no grupo. Seríamos a segunda ou terceira atração da tarde. Uma taekwondista alertou para que prestássemos atenção às outras apresentações da mesma maneira que queríamos que prestassem atenção à nossa.
Chegada a nossa vez de ocupar o centro do evento, fizemos o que foi combinado: pedimos silêncio à plateia pois o grupo não era um grupo de cantores e sim de taekwondistas. Os mestres da academia estavam presentes. Fizemos nossa performance e cada participante fez seu solo de quebramento de madeira. Dois taekwondistas que não participaram dos ensaios ajudaram a organizar o material da performance (letra da canção, madeiras, uniformes) e a ordem de entrada dos participantes. Assim que terminamos a performance, voltamos para a biblioteca. O grupo ficou muito contente, e expressou o contentamento com frases como “cumprimos nosso papel”, “já temos uma música para apresentar”, “poderíamos nos apresentar novamente no CEU”. Os participantes assistiram com atenção as outras performances.
O leitor deve ter reparado que citamos algumas vezes a palavra performance (grifo das autoras) ao largo deste capítulo. É que quando pensamos em performance, nos vem a ideia de expressão, de manifestação, de movimento que quer comunicar de modo estético um pensamento, uma concepção de vida. Esse movimento carece de um outro que o observe, que o aprecie, que se coloque com o seu corpo, com os seus sentidos, com o seu raciocínio diante da performance artística ou da performance de uma aula ou da leitura de um texto.
Podemos dizer que a performance corresponde inequívoca e inevitavelmente à apreciação; no dizer de Caldeira Filho, a apreciação é também um comportamento expressivo, o apreciador coloca-se em atitude receptiva diante de uma obra artística. Note que atitude vem do  latim actus,us, isto é, 'ato, ação, gesto'. Receber sob hipótese nenhuma pressupõe passividade. A arte-educação, que é um trabalho de percepção dos elementos artísticos, inclui a performance.
Perceber performance e recepção como movimentos complementares e ativos se contrapõe à lógica de consumo da cultura, que subtrai, quando não exclui  a experiência do indivíduo ou dos grupos, produzindo um tipo de consciência sujeitada, em que o indivíduo se torna também produtor e receptáculo de uma semicultura, porque não passa pela experiência mas pela repetição acrítica de elementos copiados; a cultura é mercadoria a qual o indivíduo fica dependente ou descarta, não mais experiência pela qual o indivíduo exerce sua autonomia.
Embora estejamos falando sobre performance, essa palavra ainda não foi dita aos taekwondistas do Jardim São Savério. Sempre usamos o termo apresentação. Talvez seja novamente o momento retomar esse material e de tornar a palavra performance bem presente junto ao grupo, uma vez que a prática do Taekwondo está no campo da performance esportiva. Uma abordagem sobre performance que nos interessa bastante e pode interessar também ao professor em sala de aula é o estudioso Paul Zumthor.
Em linhas gerais, Zumthor esteve atento à palavra oral, ao movimento corporal que produz a voz e como o corpo recepciona a palavra poética falada e escrita, ele vai se preocupar com as percepções sensoriais envolvidas no ato da leitura e da performance como o ato no qual o sujeito comunica a um público receptor ou apreciador, através do gesto e da linguagem poética, um determinado conhecimento a fim de convocar esse receptor ao prazer estético enquanto necessidade do espírito. E a fim de mudar a percepção de quem está diante da leitura ou da performance.
Para Paul Zumthor, a performance é um corpo-a-corpo com o mundo, o corpo dá as medidas e as dimensões do mundo, é com o corpo que pensamos, o corpo é o ambiente onde nos desenvolvemos e a partir de onde ocupamos o espaço. Podemos acrescentar o tempo, que nos fará pensar em ritmo ou o intervalo de tempo entre a pronúncia ou leitura de uma palavra para outra, de um gesto para outro, de um som para outro; o ritmo que é uma informação primordial da música. Observar os ritmos no Taekwondo junto aos participantes do Projeto foi o estímulo para querermos desenvolver esta pesquisa.

Conclusão

Não é bem uma conclusão. É bem mais uma auto-avaliação do processo em curso do que um fechamento das ideias que expusemos, porque o que foi escrito neste capítulo é a descrição de uma experiência num curto espaço de tempo envolvendo assuntos milenares (esporte, música, cidadania), a fotografia de um momento na comunidade, pois a realidade é mutável, complexa e muito da realidade do Jardim São Savério nos escapa das mãos.
A proposta de reunir o esporte com a música é nova para todos os envolvidos no Projeto Taekwondo e Cidadania, podemos dizer que é uma modalidade de apreensão do conhecimento que precisa reforçar os fatores musicais, de um lado e, de outro, requer maior envolvimento com a prática do Taekwondo, olhar para as formas desta arte marcial, reconhecer nessas formas a linguagem musical, isto é, encontrar a Música do Taekwondo e o Taekwondo da Música; essa pista nos deu um participante quando, numa das oficinas em que trabalhávamos os fichários de Violeta Spolin, ele sugeriu “essa sua teoria pode ser aplicada assim, a gente vê qual movimento do Taekwondo corresponde ao que você está dizendo”. Decerto, ele estava se referindo à metodologia proposta. É um chamamento encontrar o fio que une as duas atividades para além da justaposição de uma à outra, sem que percam suas identidades.
Muitas descobertas fizemos juntos, temos fortalecido a amizade, recontado a história, trazendo fatos novos ou esclarecendo passagens que tenham sido mal compreendidas, notado maior interesse das pessoas nessa experiência, observamos alguns participantes tomarem decisões importantes em suas vidas pessoais. Duas dificuldades que precisamos superar é o tempo espaçado em que os encontros acontecem, por desdobramentos com compromissos do dia a dia, e o formato oficina, em nossa visão, um pouco limitante quanto à sistematização da experiência; no entanto, por conta da atual impossibilidade de nos reunirmos com maior frequência, é o formato possível.
Fica outro desafio: o de tornar o horizonte ainda mais vasto, os encontros ricos em conteúdo estético e o de manter vivo o afeto que nutre os participantes do Projeto. Novas leituras, escutas e pesquisa são necessárias, necessário também nova roda de conversa e também entrevistas individuais bem como aprimorar e até mesmo reavaliar conceitos e práticas.
A nosso ver, essa experiência que ainda está em seu devir, é muito válida, podendo ser  mais estruturada, mais extensa e estendida embora já tenhamos nesses quase quatro anos, percebido que é uma experiência viva e que pode trazer muitos frutos, sobretudo um fruto cujo nome é transformação social e uma possibilidade de tornar transparente o fato de que a música e o esporte são atividades formadoras de uma civilização brasileira altiva, dinâmica e saudável.



fotos: acervo zetildes lima

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Para 2015,

o blog continuará ativo, com um intervalo entre uma postagem e outra mais espaçado porém regular, quero ampliar as interlocuções, trabalhar melhor o layout. Tive novos  e gratos desafios, então não consegui me dedicar a fazer mais postagens até aqui. Assunto tem de montão e para alguns já há farto material para escrever (só falta escrever!) sobre os temas a que me proponho e também sobre as atividades nas quais estou engajada, seja no trabalho seja nos fins de semana. Não porque estou engajada, que se deixe bem claro, mas porque importam para as comunidades de que participo. 
fonte: face de um aluno do Taekwondo
Uma delas é o Projeto Taekwondo e Cidadania, que acontece no Jardim São Savério,  na Escola Estadual Dr. Álvaro de Souza Lima, do qual me aproximei a partir de minha pesquisa para o TCC na UFSCar. Conhecer melhor o Jardim São Savério, suas vontades de mudanças e dar minha contribuição. Aproveitarei este finalzinho de 2014 para replanejar o ano que nos saúda, com todas as forças, saúde, leveza e fé.


domingo, 12 de outubro de 2014

12 de outubro

Dia das crianças ao som da Orquestra de Vozes A Garganta Profunda


Pouco se fala de uma parte significativa do legado de Carlos Alberto Ferreira Braga (1907 – 2006), que foi a invenção da MPB infantil. Fez adaptações de fábulas e contos populares e compôs cantigas de roda; ao musicar contos e fábulas, ele também criava e recontava histórias. Leia isto na página de Flávio Paiva. E viva a MPB infantil!

sábado, 4 de outubro de 2014

Lá vai São Francisco, cantada por Sílvio Caldas.

Hoje, 4 de outubro, dia de São Francisco de Assis. Acesse o link:

Lá vai São Francisco, de Vinícius de Moraes e Paulo Soledade

A Música e a consciência da saúde

 Tempos Modernos, Charles Chaplin
Vivemos numa sociedade em que cada vez mais é preciso ter coragem e ao mesmo tempo delicadeza para vencer as situações que forçam a nossa vida a uma mecânica que incomoda o nosso bem estar físico, psíquico, social. Cada vez mais é preciso participar das tarefas, projetos e lutas por mudança para uma realidade em que todos os cidadãos tenham pleno direito à saúde, educação, moradia, cultura, esporte, lazer, ambiente favorável, tudo com muita qualidade. A experiência musical pode bem contribuir para tudo isso. Mas o que a Música tem a ver com cidadania e saúde?

O potencial de transformação através da música ainda é pouco conhecido. Não é e nem deve ser o único instrumento, deve juntar-se a outros para compor uma manhã ensolarada. Vamos imaginar que nosso corpo seja uma partitura musical. É no corpo que percebemos e guardamos as informações de nosso tempo: os diferentes ritmos que não se combinam, isto é, o ritmo de cada pessoa com as suas necessidades econômicas e sociais com o ambiente; tudo o que chega aos nossos ouvidos, vai para o cérebro, que vai trabalhar as informações recebidas e, através dos nervos, enviar a mensagem o nosso corpo.

Não é fácil planejar nosso tempo igual a uma composição musical que nos ajude a desenvolver em nós um comportamento construtivamente transformador em todas as situações da vida. Mas é uma necessidade urgente. A experiência da música nos ajuda a contemplar a beleza das coisas e de nossa própria história de vida, a compreender os diferentes problemas, desde a poluição sonora, um movimento por um posto de saúde ou creche no bairro ou o uso do espaço escolar como espaço de produção e expressão criativas de seus frequentadores. É preciso resgatar o
grande potencial formador e terapêutico da música, a música é também um agente de saúde.
http://www.imagem.ufrj.br

* Este texto foi escrito a partir da leitura de Música, Tempo e Saúde, de Albert Mayr (ver em  Música e Saúde. RUUD, Even, org. Summus Editorial, 2ª ed , págs 95 a 105). Foi publicado originalmente no jornal Mandacaru, nº 10, set de 2014, que circula no bairro Jardim São Savério.