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Quem não se lembra da inconfundível trilha da Pantera Cor de Rosa, de Henri Mancini? Mas você sabia que o arranjo é de um brasileiro de Paranaguá? Isso mesmo. Ele se chama Waltel Branco, nascido em 22 de novembro de 1929. É compositor, regente, arranjador, diretor musical, violonista (seu principal instrumento!); é também guitarrista, contrabaixista, cavaquinista, produtor musical e professor, tendo lecionado Harmonia e violão instrumental na EMESP Tom Jobim, quando esta se chamava Universidade Livre de Música, em 1991. Compôs inúmeras trilhas para novelas da Rede Globo de Televisão, “Irmãos Coragem”, “Escalada”, “Bravo”, “Moreninha”, “O Feijão e o sonho”, “A escrava Isaura”, e foi regente de festivais, entre 1965 e 1985, na própria Globo, onde trabalhou por 20 anos, tendo lá se aposentado.
Waltel Branco foi aluno, nada mais nada menos, de Oscar Cáceres, Padre Penalva, Alceo Boccinno, Cláudio Santoro, Andrés Segovia. Em 1950, estudou também com Geraldo Wilson, um professor de Música para Cinema, na Faculdade Berklee de Música, em Boston. Lá conheceu Igor Stravinski, que o apresentou a Henry Mancini e desse encontro nasceu sua mais famosa contribuição para o cinema.
Mas a ligação com Stravinsky não para por aí. O parnanguara reescreveu algumas das partituras que o mestre russo compunha em linguagem matemática, incompreensíveis para os músicos de então, tendo inclusive realizado ensaios para orquestra nos concertos de Stravinski no Brasil. Waltel ajudou os concertistas a entenderem a partitura de “Ebony – Concerto para Clarinete e Jazz Band”, que estrearia nos Estados Unidos (e depois no Brasil), o que teria surpreendido o próprio Stravinsky, que aprovou a intervenção.
Waltel Branco tem histórias incontáveis e inacreditáveis na música e fora dela.
Foi seminarista franciscano e, mesmo tendo vindo de família de músicos, foi lá que aprendeu música. Waltel conta que foi fazer um show em Roma com o João Gilberto e a Maria Bethânia. Aí, uma produtora – que vivia com búzios na mão – sugeriu que eles fossem tomar a bênção do Papa. E quando chegaram lá o Papa disse para a moça: “Você quer a minha bênção? Você é quem está com o Waltel!”
Mesmo sem ter nenhuma filiação política, Waltel foi preso junto com um dirigente da UNE no Rio de Janeiro. Isso aconteceu porque sempre gostou muito de poesia e era amigo do poeta Thiago de Mello, cuja residência, em Laranjeiras, estava sempre cheia de poetas e militantes comunistas. Veio o Ato [Institucional] nº Cinco e ficou preso durante uma semana. E ele não podia dizer que era amigo do Thiago de Mello porque ninguém acreditaria que ele frequentava à casa do poeta para fazer poesia. Ele conseguiu escapar com a ajuda de um padrinho que era militar.
Rodou o mundo por Cuba, Estados Unidos, Europa e Japão. Em Cuba, Fidel Castro solicitou ao maestro Quem Brower que recuperasse a autenticidade da música cubana. Brower chamou. Waltel. Nesse país, tocou com Perez Prado, Mongo Santamaria e Chico O’Farrel ajudando a criar a mistura de jazz, música cubana e brasileira que veio a alterar a Salsa e, posteriormente, influenciar o Jazz-fusion do qual Waltel Branco é considerado um dos precursores.
Tocou com Ary Barroso e Garoto, Djalma Ferreira, trabalhou com Dizze Gillespie, Quincy Jones, Baden Powell, Tom Jobim, Roberto Carlos.. Criou arranjos para Dorival Caymmi (“Retirantes”, de Escrava Isaura), João Gilberto, Rosa Passos (o LP “Curare”), Flora Purim ( LP “Flora é MPM”), Maria Creuza, Vanusa, Zé Kéti, Peri Ribeiro (LP “Alvorada”), Carlinhos Vergueiro, Sérgio Ricardo, Dom Um Romão (LP “Dom Um”), Toni Tornado (LP “Toni Tornado”), Tim Maia (LP “Tim Maia”) , Jane Duboc ( LP “Languidez”), e Odair José,. Produziu os LPs de Freddy Cole e Johnny Mathis.
Regeu orquestras, gravou quatro discos de música erudita. Na música popular, destacam-se os LPs “Recital”, “Meu balanço”, “Batucada fantástica”, Mancini também é samba” e “Violão em 2 estilos”, este último com Rosinha de Valença. Em CD lançou “Kabiesi”, em 1997, “Naipi”, em 2002 e “Meu Novo Balanço. Em 2006, teve várias de suas trilhas lançadas no CD “Som Livre Masters Trilhas”. Waltel sempre foi um músico múltiplo, desconhecia fronteiras entre erudito e popular, tocava de Bach à Soul e FunkMusic.
Sua vida foi retratada no documentário “Descobrindo Waltel”, de Alessandro Gamo, de 2005, com depoimentos de Dom Salvador, Hermínio Bello de Carvalho, entre outros. E, mais recentemente, um grupo de intérpretes para violão gravou peças compostas por Waltel para o instrumento, no CD O violão plural de Waltel Branco, com produção de Álvaro Collaço. E em 2008, foi lançado o livro de partituras A obra para violão de Waltel Branco, organizado por Cláudio Menandro.
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